Pensando com a cabeça de um gamer, é evidente que nossa classe possui um alto índice de adotantes precoces. O que o povo gosta e o que o povo quer é o console mais potente, a máquina mais recente, os jogos mais acachapantes, os gráficos mais avançados, o sistema de controle mais desprovido de interface (nossa, eu controlo o jogo com os braços, que legal!). Em contrapartida, a realidade brasileira é um pouco distinta, já que nossa cultura idolatra quem pirateia e considera retardado quem se dá ao luxo de comprar um jogo original. Deixemos isso de lado por enquanto, vamos assumir que estamos em ambiente CNTP, num universo gamístico onde a pirataria inexiste.
Assim como qualquer outro aficcionado por jogos eletrônicos, o shmupper - gamer que se dedica com afinco aos jogos de nave - também é uma vítima do marketing. A diferença entre nós e os outros é que o marketing que nos atinge é altamente direcionado, e a exclusividade a que me referi acima na maioria das vezes percorre o caminho inverso ao dos jogos dos outros gêneros por dois motivos. Primeiro: hoje em dia a esmagadora maioria dos jogos de nave (mesmo os títulos ruins) aumenta de preço à medida em que o tempo passa. Com exceção dos RPGs, o mesmo não ocorre com os demais gêneros. Segundo: o fato de curtir jogos de nave te dá um selo de exclusividade por default. É como se fôssemos eternos adotantes precoces, pois o envelhecimento dos jogos é praticamente nulo num gênero onde a importância da jogabilidade está sempre acima da capacidade gráfica.
A grande verdade é que os jogos de nave são um hobby dentro de outro hobby. Quando dizem que sou um gamer ou que curto vídeo-games eu rapidamente adiciono que me dedico exclusivamente aos jogos de nave e vivo completamente fora da redoma mainstream (só para esclarecer, também curto jogos de briga, corrida e raciocínio, mas só quando os amigos vêm visitar). Alguns pensam que sou maluco porque nunca joguei e nem tenho vontade de jogar Call of Duty, Gears of War, Resident Evil ou a última edição de Pro Evolution Soccer. Já aqueles que vivem fora da realidade dos vídeo-games pensam que sou um vagabundo, afinal um homem de 36 anos jogando vídeo-game (antigo, ainda por cima) só pode ser um desocupado com síndrome de Peter Pan.
Pois bem, jogos de nave e seus admiradores são excluídos do universo dos vídeo-games como o conhecemos hoje? Não fique triste, caro shmupper! Apresento a seguir alguns motivos que atestam as vantagens de que desfrutamos por fazermos parte desta turma, incluindo revisões menos prolixas de algumas das ideias expostas nos páragrafos acima.
- Grande conexão com a gênese do vídeo-game. Os primeiros vídeo-games foram jogos de nave. É o gênero mais antigo e o que está menos fadado a envelhecer com o passar das gerações. Como explicitado acima, o foco destes jogos é a jogabilidade, não a capacidade gráfica. E a boa jogabilidade é eterna, não se desvaloriza nem envelhece.
- Desenvolvimento de coordenação e reflexos. Jogos de nave demandam um nível mais alto de coordenação motora e reflexos, sendo consequentemente responsáveis por desenvolver tais características nos aficcionados. Estamos falando de jogos onde o sucesso depende muito mais da habilidade do jogador do que de um sistema que o conduz pela mão até o final, com regeneração constante de energia, chances infinitas para passar de checkpoints ou pontos de save a cada minuto jogado.
Quem não curte a genialidade de River Raid que atire a primeira pedra
- Elevada relação Desafio × Recompensa. O primeiro propósito de um jogo de nave é sobreviver, mas o segundo é fazê-lo de forma elegante. Para os iniciados não basta somente chegar ao final, é preciso fazê-lo em um só crédito (sem pegar continues). Indo mais além na elegância da performance, há quem se dedique a atingir o objetivo final sem perder vidas, sem usar bombas, maximizando a pontuação e o multiplicador fase após fase, galgando o ponto mais alto do pódio nas competições com os colegas, etc. Nenhum outro gênero possibilita medidas de desenvoltura tão uniformes, simples e diretas.
- Sessões curtas. Enquanto jogos de outros gêneros exigem horas de dedicação para serem finalizados, com jogos de nave o problema é contornado com facilidade. Eles são ideais para quem tem pouco tempo disponível para jogar vídeo-game, pois a grande maioria é de aprendizado simples, com créditos curtos que podem ser terminados em até 30 minutos. Tem um tempinho sobrando na hora do almoço ou enquanto espera alguém chegar? Faça como nosso ilustríssimo redator Jorge, que tira o PSP do bolso e manda ver num jogo de nave enquanto aguarda a marmita esquentar no forno.
- Manutenção de um bom relacionamento com a/o cônjuge. É fato que, no caso dos homens, suas namoradas/esposas/patroas preferem que os respectivos fiquem em casa, sob seus olhares, ao invés de se bandearem com os amigos até o bar da esquina, o campo de futebol de outro bairro ou sabe-se lá onde. Na verdade, essa vantagem se aplica a qualquer gênero de vídeo-game, mas há um detalhe crucial que faz dos jogos de nave ideais para que o hobby exista de forma mais harmoniosa dentro de um relacionamento. Novamente, trata-se da curta duração da maioria dos jogos. Exemplo: a escala com a patroa anda apertada? Apesar da ameaça de se deixar levar pela adrenalina ainda existir, isso pode ser facilmente administrado porque um crédito dura no máximo meia horinha. Com outros gêneros, em especial no caso de jogos mais antigos, é bem mais difícil curtir a jogatina de forma segmentada. Vejam o caso de um estudo que aponta quais são os maiores causadores de divórcios quando o assunto é excesso de jogatina.
Um problema cada vez mais presente entre os casais
- Shmuppers tendem a ter uma vida mais saudável. Devido ao fato de exigirem muita concentração e foco, os jogos de nave naturalmente repelem a ideia de que uma pessoa possa jogar sem parar por um tempo muito longo. Dedicar mais de três horas ininterruptas a pedreiras como Battle Garegga ou Pink Sweets, por exemplo, é algo difícil de se visualizar. A essa altura do campeonato os olhos já começam a ficar embaçados com a visão de tantos tiros, o que muitas vezes vem acompanhado de entropia de performance e síndrome de restartitis. Enfim, por sua própria natureza os jogos de nave evitam que casos extremos como este ocorram com os fãs e aficcionados. Já este artigo informa qual seria o título/gênero com mais potencial para escravizar os jogadores.
- Colecionar jogos de nave é investimento certo. Por algum motivo qualquer você não comprou Muchi Muchi Pork! & Pink Sweets do Xbox 360 na época em que foi lançado? Já era um shmupper mas não deu muita bola quando Border Down saiu para o Dreamcast em 2003? Na semana passada deu vontade de pegar uma daquelas coletâneas Taito Memories para o PS2? Pois é, tente encontrar estes jogos hoje em dia e prepare-se para ter uma grande surpresa... Mano, nem mesmo títulos fracos como Mamoru-kun do PS3 ou problemáticos como DoDonPachi Dai-Ou-Jou Black Label Extra do Xbox 360 escapam da inflação!
Defenestrado, e mesmo assim desejado por muitos
- Jogos de nave têm início e fim definidos. Um mal que assola o a realidade dos vídeo-games modernos é o abuso das companhias que desovam títulos mal-acabados no mercado e mais tarde cobram por patches ou DLCs (conteúdo via download) que liberam partes essenciais de um jogo - incluindo, no casos mais polêmicos, o seu próprio final. A sem-vergonhice é tamanha que na esmagadora maioria dos casos o conteúdo a ser "baixado" já está no disco, o que se faz na verdade é pagar por um mísero código de destravamento. Com jogos de nave não há essa frescura, o máximo que aparece de vez em quando, além do eventual patch, é personagens extras (Mamoru-kun, Strike Witches) ou modos de jogo diferenciados (Deathsmiles). O conteúdo principal, no entanto, está liberado por default.
Quer participar de comunidades de shmuppers?
Algumas dicas para se enturmar:
→ Comunidade Jogos de Nave no Facebook (Português)
→ Comunidade Shmups no Facebook (English)
→ Comunidade Jogos de Nave no Orkut (Português)
→ Fórum Shmups (English)
→ Agradecimentos aos integrantes da comunidade Jogos de Nave (Facebook) pela ajuda com ideias para a elaboração deste singelo artigo.
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